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A Agricultura Brasileira e Seus Desafios

A Agricultura Brasileira e Seus Desafios


O principal desafio da agricultura brasileira e mundial é alimentar 10 bilhões de pessoas no mundo todo em 2050, isso significa que, teremos que produzir 56% a mais de alimentos, com base na produção de 2010. Esta é uma estimativa da Organização das Nações Unidas (ONU), que prevê também que precisaremos de mudanças urgentes no sistema global de alimentos, para que haja comida para todos, sem que ocorra a destruição do planeta.

Este desafio é enorme e complexo pois envolve várias questões como: mudanças climáticas, desenvolvimento de novas tecnologias, mudanças nos hábitos alimentares dos consumidores, redução do desperdício de alimentos, soluções para a insegurança alimentar, mudanças nos sistemas de produção, investimento em pesquisa cientifica, estreitamento das relações internacionais, uso racional de recursos hídricos, entre outras.

Apenas para exemplificar algumas dessas questões, no caso das mudanças climáticas, se as emissões de gases de efeito estufa (GEE) continuarem sendo elevadas nas atuais taxas, a temperatura do planeta poderá aumentar 5,4 °C até 2100. Com isso haveria uma elevação do nível do mar em até 82 cm causando um grande impacto em grande parte das regiões costeiras de toda a América do Sul. E esta é apenas uma entre as muitas consequências do aumento da temperatura global. Estima-se que alguns cultivos se tornarão inviáveis nos locais tradicionais onde são produzidos e por isso, novas variedades terão que ser desenvolvidas, mais adaptadas às condições ambientais extremas.

Outro exemplo destas questões citadas é sobre como vai acontecer o aumento da produção de alimentos. Será preciso produzir mais por cada hectare, para que as vegetações nativas sejam preservadas, ou seja, é preciso uma intensificação da produção de forma sustentável. E esta intensificação envolve, principalmente, desenvolvimento de tecnologias, pesquisa científica e extensão rural.

A modernização recente da agricultura brasileira já é uma experiência bem-sucedida de intensificação da produção agrícola. O principal indicador é a produtividade. Em cada hectare se produz hoje 6 vezes mais grãos do que em 1975. A intensificação ajudou o Brasil a ter, atualmente, 66% de suas terras cobertas por vegetação nativa.

Esse papel de protagonismo na agricultura é resultado de uma combinação de fatores. O cenário para isto é um país com abundância de recursos naturais, com extensas áreas agricultáveis e disponibilidade de água, calor e luz, elementos fundamentais para a vida. Mas o que fez a diferença nestes últimos 50 anos foram os investimentos em pesquisa agrícola - que trouxe avanços nas ciências, tecnologias adequadas e inovações -, a assertividade de políticas públicas e a competência dos agricultores.

O Brasil deixou de ser importador de alimentos para se tornar um grande fornecedor de alimentos para todo o mundo. Porém, esta história já foi bem diferente. Nas décadas de 50 e 60, a agricultura brasileira era rudimentar, prevalecia o trabalho braçal e menos de 2% das propriedades rurais contavam com máquinas agrícolas. Nesta época, o Brasil vivia um momento de forte industrialização, com cidades em crescimento, aumento da população e maior poder aquisitivo. Havia uma escassez de alimentos na época. Um recorte do jornal “O Estado de S. Paulo” na época, 24 de abril de 1968, retirado do documento Visão 2030, da Embrapa, dizia o seguinte:

“O Brasil terá de multiplicar por dez a sua atual produção de alimentos, ou será forçado a parar o surto de industrialização por falta de divisas para pagar o crescente volume de importação de alimentos...”

Então houve grandes mudanças ao longo dos anos. A produção de grãos no Brasil saltou de 38 milhões de toneladas para 236 milhões em 2017, um crescimento em mais de 6 vezes, enquanto a área plantada apenas dobrou. Em relação à carne bovina, o país assumiu também um papel de protagonismo, com o PIB da pecuária de corte assumindo uma representatividade de 8,5% em relação ao PIB brasileiro, em 2019. Na avicultura, o Brasil se tornou o maior produtor mundial de carne de frango neste mesmo ano. A primeira colocação a nível mundial, na produção de café e laranja pertence ao Brasil, que também é o segundo maior produtor de soja, etanol, açúcar e celulose. Enfim, fica muito claro que o Brasil é uma grande potência no Agronegócio que, mesmo durante a pandemia da Covid-19, conseguiu, colaborar com a estabilidade do PIB brasileiro.

Mas o Agronegócio é um setor muito amplo, diversificado e complexo, envolvendo diversas culturas produzidas para as mais variadas finalidades e que, uma determinada cultura faz parte de diferentes cadeias produtivas como a de alimentos e energia, por exemplo. A cultura do milho é um exemplo interessante, em que parte da sua produção é destinada à produção animal, outra parte vai para a alimentação humana e ainda, uma outra parte vai para a produção de etanol. Além disso, uma parte da produção total de milho é destinada ao mercado internacional e outra parte fica por aqui mesmo, para abastecer o mercado interno.

E devido à essas características do setor, a pandemia acabou gerando impactos com diferentes intensidades nas várias cadeias produtivas. De modo geral, as principais commodities agrícolas (soja, milho, café, algodão, etanol, entre outras) não sofreram tanto com o impacto da pandemia, pois diferentes partes da produção de cada uma destas commodities são exportadas para outros países. E com o dólar bastante valorizado frente ao real, e uma forte demanda de commodities por países como China, as exportações contribuíram muito com os bons resultados econômicos de algumas destas commodities. Porém, há de se ressaltar que outras culturas como hortaliças e flores, por exemplo, que são muito dependentes do mercado interno, sofreram um forte impacto negativo com a pandemia.

E o problema não para por aí. A pandemia também teve um forte impacto na “outra ponta” da cadeia de produção de alimentos, o consumidor, principalmente os que se enquadram nas classes mais baixas. A pandemia contribuiu para uma forte recessão econômica no Brasil, aumentando o número de empresas falidas, desempregos, hospitais cheios, insegurança alimentar, entre outros problemas. Nos últimos meses de 2020, os dados do Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil, desenvolvido pela Rede PENSSAN, mostraram que o nível de insegurança alimentar grave afeta 9% da população, ou seja, 19 milhões de brasileiros estão passando fome. A insegurança alimentar é um problema antigo no Brasil, porém, com a pandemia e outros fatores envolvidos, houve um retrocesso à patamares de 2004.

E como pensar em alimentar 10 bilhões de pessoas no mundo em 2050, sem antes resolver nosso problema interno de pessoas passando fome? É uma situação muito complicada. Então, surge mais um desafio, resolver o problema da fome no país. Claro que não depende apenas do agronegócio, já que a fome é um problema complexo e demanda soluções multissetoriais. Mas por que temos que resolver o problema da fome? Porque este problema acaba se tornando um gargalo, impedindo um crescimento sustentável e à longo prazo do país. A fome está relacionada à pobreza, que está relacionada à baixa escolaridade, falta de emprego...e por aí vai.

Além do desafio de alimentar 10 bilhões de pessoas no mundo e da fome que vem aumentando muito aqui no país, o mundo cobra do agro brasileiro mais sustentabilidade. Mesmo tendo 66% da nossa vegetação nativa preservada, alguns dos países compradores das commodities brasileiras, insistem em boicotar nossos produtos, como foi o caso da França, ocorrido em janeiro deste ano, dizendo que a soja brasileira tem origem de áreas desmatadas da Amazônia. Se o mundo cobra por mais sustentabilidade e cada vez mais pessoas estão dispostas a pagar mais e valorizam produtos/serviços mais sustentáveis, este é o único caminho a seguir. Além disso, O Brasil participa de diversos acordos internacionais e está comprometido com agendas de sustentabilidade. Durante a COP 21, realizada em 2015, o Brasil se comprometeu a reduzir em 43% as emissões de GEE até 2030, foi estabelecida também como meta a redução em 80% as taxas de desmatamento na Amazônia e em 40% no Cerrado.

Apesar do Brasil falhar em relação à alguns acordos ambientais, do ponto de vista de ciência e tecnologia, contamos com várias inovações já bastante difundidas, como a Integração Lavoura Pecuária-Floresta (ILPF), sistemas agroflorestais, agricultura orgânica, sistema plantio direto, fixação biológica do nitrogênio (FBN), manejo integrado e controle biológico de pragas e doenças, etanol de 2ª geração, o código florestal, que é considerado uma das legislações mais avançadas do mundo, além das iniciativas públicas, o Plano ABC e o Programa Nacional de Bioinsumos. E a transformação digital, que também chegou no agro e já causou impactos significativos, como mostra o “Radar Agtech Brasil 2020/2021”, que é um mapeamento das startups do agro brasileiro. De acordo com o mapeamento, o número de startups no agro cresceu 40% desde 2019, totalizando 1.574 agtechs.

Como se pode ver, os desafios são enormes e complexos. E a ideia deste texto foi mostrar que o agro brasileiro, ao longo da sua história, sempre superou grandes desafios e por esse e outros motivos, se tornou um setor de extrema importância para o país. Temos, focadas neste setor, empresas, instituições de pesquisas, universidades, ONG’s, hubs de inovação e produtores rurais, com as melhores qualidades, entre os melhores do mundo, formando um grande ecossistema focado em entender os problemas do agro e buscar soluções. Ou seja, temos tudo para continuarmos sendo referência no mundo superar cada um destes desafios. A oportunidade está em nossas mãos. 

Autor: Diego Augusto Ribeiro, engenheiro agrônomo e produtor rural.

REFERÊNCIAS RELATÓRIO da ONU pede mudanças na forma como o mundo produz e consome alimentos. Nações Unidas Brasil, 2019. Disponível em: . Acesso em: 20 de mai. de 2021.

VISÃO 2030: o futuro da agricultura brasileira. Embrapa, 2018. Disponível em: . Acesso em: 20 de mai. de 2021.

BEEF REPORT 2020, Perfil da pecuária no Brasi. Abiec, 2020. Disponível em: . Acesso em: 22 de maio 2021.

OLHARES PARA 2030: Desenvolvimento Sustentável. Embrapa, 2021. Disponível em: . Acesso em: 28 de maio de 2021.

INQUÉRITO Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil. Rede PENSSAN, 2021. Disponível em: . Acesso em: 28 de maio de 2021.

DEBATES Agro Global | Agricultura, Desmatamento e o Código Florestal. Insper, 2021. Disponível em: . Acesso em: 02 de junho de 2021.

FIGUEIREDO, Shalon Silva Souza; JARDIM, Francisco; SAKUDA, Luiz Ojima (Coods.) Relatório do Radar Agtech Brasil 2020/2021: Mapeamento das Startups do Setor Agro Brasileiro. Embrapa, SP Ventures e Homo Ludens: Brasília, 2021. Disponível em: . Acesso em: 10 de junho de 2021.



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